

Não me perturbe com falsos pudores. Prefiro o galanteio barato que vem junto com o ar blasé de quem se habitua a um vício. Não me culpo mais pelas incertezas. Hoje acordei cedo e fiz um chá. Depois inventei um conto sem palavras, todo bordado na minha imaginação. Apaga o cigarro? Tô ficando chato com a maturidade. Confundo nomes, esqueço chaves. Me engano fácil com algumas delicadezas. Só algumas.
Essa noite sonhei que tudo estava diferente. Que a janela havia sido consertada, que as paredes do estúdio estavam pintadas de branco como num toque de mágica. Mas acordei com um frio de sete graus e a tampa da privada levantada. Você sabe me irritar. Assim como sabe fazer aquela omelete única com queijo barato derretido e um quê de cebolinha picada bem fininha.
Quero voltar a dormir a noite inteira, sem precisar dos comprimidos que me oprimem o corpo todo no dia seguinte. Queria esquecer que existe uma garrafa de gim atrás da estante, onde escondo tantos outros pequenos segredos: uma xícara antiga com a asa quebrada, nosso retrato rasgado num momento de fúria e até algumas lágrimas que saíam dos olhos direto para as páginas de certos livros.
Não quero mais lembrar de você. Não quero nunca mais saber de nós dois.
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